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Os 80 Anos de Dori Caymmi!

Atualizado: 29 de ago. de 2023

Neste dia 26/08/2023 o renomado compositor, arranjador, violonista e cantor Dori Caymmi comemorou 80 anos de vida.


Dori nasceu há exatamente 80 anos, filho de Dorival Caymmi e Stella Maris (nome artístico de Adelaide Tostes). Dorival, um dos maiores compositores da música brasileira; Stella era cantora de rádio, no entanto, ao se casar com Dorival, ela abandonou sua carreira artística. Dori também tem dois irmãos célebres: Nana Caymmi, uma das grandes cantoras brasileiras e Danilo Caymmi, compositor, flautista e cantor de carreira igualmente importante.


Eu pertenço a uma geração que se profissionalizou na música durante os anos 90 e que compartilha uma profunda admiração pela música do Dori. Nesse período, ele morava nos EUA e lançou uma série de discos que aguardávamos com extrema ansiedade: Brazilian Serenata, Kicking Cans e If Ever. Uma obra-prima atrás da outra.


Minha paixão pela música de Dori Caymmi me levou até o mestrado na Unicamp, onde fiz uma pesquisa sobre sua música, intitulada:



(Os áudios da dissertação podem ser baixados aqui no site mesmo).



Dia em que entrevistei o Dori para a dissertação (2005)


As Primeiras Gravações e a Geração da MPB


Dori Caymmi fez sua estreia em disco com "Caymmi visita Tom", de 1964, ao lado de Tom Jobim e dos outros membros da família Caymmi. Ele faz parte da geração pós bossa nova, conhecida como a geração da MPB, que inclui nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Elis Regina e Edu Lobo. Essa geração se firmou através dos Festivais de Música, promovidos pelas redes de TV e moldou a música brasileira a partir de então,





A Vitória em Festivais e a Mudança para os Estados Unidos


Em 1966, Dori Caymmi ganhou o primeiro Festival Internacional da Canção (FIC) com a música "Saveiros", uma parceria com Nelson Motta, fazendo com que começasse a ficar conhecido como compositor.


Em seguida, a música “O Cantador” também fez seu caminho nos festivais. Embora não tenha conseguido premiação, ela tornou-se a música mais gravada de Dori, tendo ganhado versões de artistas como Elis Regina e Sarah Vaughan.




Nesse mesmo período, Dori começa a se firmar também como arranjador, participando em diversos trabalhos de outros artistas, incluindo Gal Costa, Caetano Veloso, Edu Lobo, Maria Bethânia e Gilberto Gil.




A fase brasileira


O primeiro disco de Dori Caymmi foi lançado em 1972, mas sua intensa atividade como arranjador fez com que fosse difícil levar uma carreira como artista solo.


O seu trabalho seguinte seria lançado somente em 1980. É um disco incrível, que inclui as obras-primas “Porto”. "Desenredo" e “Desafio”, além da releitura de “Você já foi à Bahia”, composição do pai que seria revisitada em outras ocasiões.


Ainda na fase brasileira, Dori lançaria "1982", com estética e qualidade muito semelhantes ao álbum anterior.



A fase americana


No final dos anos 80, Dori se muda para os Estados Unidos, a convite de Sérgio Mendes e vive por 25 anos em Los Angeles. Durante esse período, ele lança uma série de discos brilhantes. Nestes trabalhos, Dori flerta com o jazz, incorpora a improvisação, utiliza harmonias elaboradas e arranjos refinados, ao mesmo tempo em que permanece conectado à tradição da música brasileira.


Sua música é uma fusão cativante da canção brasileira, jazz, bossa nova e música regional. Dessa fase, o destaque vai para "Brazilian Serenata", que na minha opinião é sua obra-prima. O trabalho seguinte "Kicking Cans" é seu disco mais "jazzístico", com um trabalho de guitarra fenomenal de Ricardo Silveira, além do brilhante solo de Herbie Hancock em "Brasil", premiado com um Grammy.



Homenagens


Na terceira fase de sua carreira (conforme a divisão proposta na minha dissertação), Dori presta sua homenagem aos seus ídolos, aos seus contemporâneos e ao seu pai. Nesta fase, Caymmi privilegia seu lado de arranjador e intérprete. Os discos “Influências” e “Contemporâneos” são alguns dos seus melhores trabalhos e contam com inúmeras participações especiais, incluindo Caetano Veloso, Chico Buarque, Nana Caymmi e Renato Braz.


Em "Cinema: a Romantic Vision", Dori se rende às grandes trilhas de cinema, fazendo arranjos sofisticados e originais para temas de filmes conhecidos, como os da Pantera Cor de Rosa e James Bond.



Retorno ao Brasil


Após um período de luto onde Dori lançou poucos discos autorais e passou a compor menos (seus pais faleceram em 2008), ele gradativamente acelera sua produção, lançando diversos trabalhos nos últimos anos. Em 2017 ele regressa ao Brasil, o que parece tê-lo estimulado a compor e gravar com mais frequência. Só em 2022, ele lançou dois trabalhos, “Sonetos Sentimentais para Violão e Orquestra” e “Canto Sedutor”, em parceria com a cantora Mônica Salmaso.


Por ocasião dos seus 80 anos, Dori vai lançar mais um disco e publicar seu tão aguardado songbook pela editora do Sesc.



Dori em show no Sesc Pompéia em 2017


A seguir, 5 discos fundamentais de Dori Caymmi



1980


Nesse trabalho, o estilo Dori Caymmi se revela em sua plenitude. Dividido em dois estilos de composição, “canções bossanovísticas” e “canções regionais”, é neste segundo que o estilo Dori Caymmi se manifesta com mais intensidade, através do aplicação de progressões modais e da afinação EADGBB e DADGBB, além de um original uso de cordas soltas e do recurso da campanella. Destaque para as faixas “Porto” (com a participação do grupo Boca Livre), “Desenredo” e “Desafio”.





Brazilian Serenata (1991)


Esta é a obra-prima de Dori. Segundo trabalho a ser gravado nos EUA, foi lançado pela Qwest, gravadora de Quincy Jones. A abertura de cordas em “Amazon River” é uma das coisas mais lindas da música brasileira. Também podemos destacar a evolução da sua harmonia, com um uso cada vez mais frequente de acordes invertidos e da afinação da primeira corda em B (si).






Kicking Cans (1993)


Esse é o trabalho mais “jazzístico” do Dori, com solos fabulosos do guitarrista Ricardo Silveira e do pianista Herbie Hancock, que acabou ganhando o Grammy por seu solo em “Brasil”.


Esse disco traz composições e arranjos do mais alto nível, com uma grande diversidade rítmica, como se vê nos acentos sincopados de “Migration”, no 3/4 de “It’s Raining” e no frevo estilizado em “Kicking Cans”.




Influências (2001)


Nesse disco Dori presta uma homenagem aos seus ídolos, Ari Barroso, Noel Rosa, Tom Jobim, além de Baden Powell e João Gilberto, os “pais” do seu violão, segundo suas próprias palavras.


Esse trabalho traz arranjos belíssimos de composições consagradas e inclui inúmeras participações, como Gal Costa, Maria Bethânia, Nana Caymmi e Dominguinhos.







Contemporâneos (2002)


Este disco é praticamente uma continuação do trabalho anterior, mas desta vez a homenagem de Dori é para seus contemporâneos: Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento, João Bosco e Sueli Costa, entre outros.


O trabalho também é repleto de participações especiais, e aqui Dori utiliza um recurso interessante, ao pedir para que um artista cante a música de outro.



Não deixe de ouvir o arranjo de “Ponta de Areia” (Milton Nascimento), interpretado pelo próprio Dori e por seu irmão Danilo. Maravilhoso!



Se quiser se aprofundar um pouco mais, assista ao vídeo abaixo onde eu demonstro alguns dos exemplos da maravilhosa música de Dori Caymmi.





Vida longa a esse grande mestre!



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